1000 dias vivendo oficialmente em uma cidade que eu sempre imaginei…

É difícil começar um texto com um bordão tão manchado e cliché nos dias atuais, mas… “Quem me conhece sabe” o quanto eu sempre falei bem de Barcelona. O quanto essa cidade pareceu mexer com aquele mochileiro “velho” em 2010 – que quase tirou a cidade do roteiro para curtir outras baladas inexistentes. O quanto essa cidade se fixou em um patamar “romântico e platônico” na minha vida em 2012. Longos foram os 6 anos que demorei para voltar e visitar, tendo a certeza que, em algum momento, cedo ou tarde, eu iria morar aqui. E, depois de 10 anos da minha primeira visita, consegui concretizar minha promessa mais especial…

Tudo o que falei acima aconteceu.

Barcelona foi a última cidade do meu 1o mochilão em 2010 e a última “grande cidade” a entrar no roteiro. A última parte daquele roteiro fizemos de carro – desde Munique, descendo para CinqueTerre, indo para Nice, Marselha e chegando a Barcelona. Só que esse “último braço” era uma viagem de aproximadamente 6h na época e eu disse “por mim, arranca Barcelona e subimos para Paris direto” (Meu voo de volta foi por Paris). Só que o Rafa bateu o pé e manteve Barcelona no roteiro e passamos 4 dias por aqui que foram BEM fodas.

Em 2012, na viagem que fiz com a dna Lúcia por aqui, viemos para Barcelona porque tinha o show do The Cure no Primavera Sound e eu – que nunca tinha visto The Cure – ri da possibilidade de ver The Cure, em uma sexta-feira (trocadilho bem idiota para ouvi-lo dizer “It is the RIGHT DAY Barcelona…” antes de Friday I’m in Love) e ainda reencontrar Barcelona para ver “se era tudo aquilo mesmo”. A diferença de 2 anos não mudou nada minha impressão e parecia que eu a tinha visitado na semana anterior…

Em 2016, quando decidi que ia vir morar na Europa, acho que ouvi de algumas dezenas de pessoas “Vai morar em Barcelona?” e eu sempre respondia “Agora não. Mas um dia quem sabe…” e era isso. Visitei como turista Barcelona em 2018 e pude ver algumas mudanças, algumas coisas BEM diferentes, mas ainda aquelas diferenças não conseguiram manchar a ideia que eu fazia da cidade.

Em 2019, numa conversa totalmente desconexa com qualquer assunto, decidi que em março de 2020 eu mudaria para Barcelona e arquitetaria minha vida a partir de ali. Na época eu já trabalhava remotamente para Dublin e criei toda uma história para justificar minha mudança para Barcelona. E assim, em 28/2 saí de Lisboa no carro do Léo abarrotado de coisas e viemos numa viagem de 12h para iniciar a 5a cidade que moraria na Europa (em apenas 3 anos).

Sempre digo que acertei o timing – mesmo com a pandemia me forçando a ir para o Brasil por ainda não ter o NIE aqui – de mudar. Se viesse de cara para Barcelona acho que não estaria preparado para todos os perrengues, burocracias, quebradas de cara e dificuldades infinitas. Se viesse antes, teria desistido e ido embora deixando para trás talvez o meu maior sonho realizado. Talvez eu teria algo para falar mal, sem entender direito o que acontece.

“Vacinado” depois de 3 anos de Zuropa e todos os perrengues enfrentados, posso dizer que Barcelona é foda.

Alguns dias atrás a Anna me perguntou “O que você mais gosta em viver aqui?” E eu não soube e nem sei responder concretamente. É a atmosfera. É algo no ar. É o ritmo. É algo arquitetônico. É a praia feita. São as cores que essa cidade tem. É a Sagrada Família. A Rambla. A Barceloneta. O nascer do sol. O clima ameno (apesar do frio cada vez mais presente). Os segredos. A comida e uma porção de outras coisas que nem eu sei que eu gosto, mas eu gosto…

Problemas essa cidade tem demais. Muitos mesmos. Alguns me irritam profundamente, mas que lugar do mundo não os têm? O importante da equação é que as coisas boas sempre precisam sobressair sobre as ruins. E aqui eu ainda vejo uma larga vantagem nas coisas boas e assim nem penso em me mudar.

Vou morar aqui para sempre? Vou morrer aqui? São perguntas que eu nem tenho ideia de como responder. A vida é cheia de surpresas e mistérios, mas por enquanto eu sigo aqui. E mesmo que saia daqui, sempre carregarei o carinho enorme por ter vivido aqui, por ter sido parte de Barcelona e desse ritmo que tanto combinou comigo e por Barcelona ter se mostrado tão grande e poderosa quanto eu imaginava.

E é TOTALMENTE insano, ver que a promessa que aquele turista sonhador de 26 anos fez numa Rambla lotada pela “La Mercé”, se concretizou 10 anos depois. Com um bom trabalho, com amigos e com um monte de bagagem extra para viver da melhor maneira possível nessa cidade que ele escolheu, sem nem saber o porquê e sem nem saber explicar totalmente a razão. Mas sabendo que tanto agora, e o que resta daquele moleque de 26 anos, estão felizes e completos nessa cidade.

Feliz 1000 dias. Obrigado Barcelona! Mas, obrigado também a Coimbra, Dublin, Carcavelos e Lisboa. Vocês me deram todo o suporte para chegar aqui bem e preparado. Muito obrigado!