E pela 5a vez na vida eu assisti Sir Bob Smith com o seu poderoso (agora sexteto) The Cure. Dessa vez em Barcelona no Palau Sant Jordi.
Curiosamente, Barcelona foi a cidade onde eu vi o The Cure pela primeira vez, no Primavera Sound 2012. De lá para cá Brasil, Londres e Lisboa passaram no meu caminho até a cura de mais de 40 anos de banda…
Muita coisa mudou do show de 2012 para cá? Sim e Não. Sim, porque agora apareceram algumas músicas novas que vão ser parte do novo CD do The Cure e não, porque a base de show e a forma com que o show se desenvolve pouco mudou de nesses 10 anos. A primeira parte sempre começa cadenciada e vai propositalmente para um final de tristeza, peso, angústia, escuridão e pouquíssima alegria – o que faz o 1o BIS ser caótico e digno de aflição para muitos. Então pouca coisa mudou nesse sentido. O que é maravilhoso para quem conhece mais que o combo pop do rádio.
Essa turnê começa com Alone (música nova), enquanto Robert (que não toca nenhum instrumento nessas novas músicas), caminha de um lado ao outro do palco “saudando as pessoas” como quem diz: “oi, eu estou aqui. Estamos todos aqui. Vai ficar tudo bem” – meio que alertando o público para o que eles têm preparado para as próximas 2h40 de show…
A introdução é larga e pesada. Quando finalmente ele canta, é mais uma confissão de solidão e fim de ciclo/sonhos/esperança. Robert sabe como poucos escrever sobre esses temas e sempre criar situações que todos nós passaremos em vida. Sendo assim, um dia essa música fará sentido para você (ou você lembrará de quando ela fez sentido).
Pictures of You, A Night Like This e Lovesong vieram dar um pouco de alento e ritmo na vida das pessoas. Porém foi a parte “mais alegre” dessa primeira parte do show. No meio disso tudo, mais 2 novas (And Nothing is Forever e A Fragile Thing) apareceram no meio das complexas Burn, At Night, Push, Trust e outras mais… O final dessa parte (que já fazia algumas pessoas clamarem por “Boys Dont Cry”) veio com Endsong (que eu acho angustiante da maneira como ela NUNCA termina).
A banda sai para o BIS e os desavisados do meu lado já estavam alegres para o The Cure voltar e tocar as “favoritas”, porém eu apenas sorri e avisei que os próximos 20 minutos seriam um pouco pior…
O BIS 1 veio com a nova “I Can Never Say Goodbye” (talvez uma ironia tocar isso logo da banda deixar o palco) e a sequência brutal e dark de Plainsong, Prayers for Rain e Disintegration…
Quando Disitengration terminou muita gente não havia entendido o que havia acontecido nos quase 20 minutos de “parte extra”, mas eu (e talvez mais uns 10) estava realizado a ponto de que se o show terminasse ali, naquele exato momento, tudo já havia valido a pena.
Mas The Cure carrega, além de toda essa angústia, tristeza e depressão, músicas alegres – exatamente porque a vida é assim, com seus altos e baixos, e temos que sempre olhar para os dois lados – valorizando tudo da mesma maneira…
O BIS 2 é extremamente “pop” e levou o (lotado) Palau Sant Jordi a dançar, gritar e, afinal, terminar a noite sorrindo depois de 2h47 de show. A trinca final ficou com “In Between Days”, “Just Like Heaven” e “Boys don’t Cry”.
Sinceramente falando… Com um final desses você acha que alguém saiu daquele show triste ou cabisbaixo? Duvido muito!
Como o Bob disse em 2018: “Acho que depois de 40 anos podemos dizer que o rock cura” e sim, Bob maldito, CURA SEMPRE!
Obrigado The Cure por ter finalizado meu ano de 2022 de maneira tão intensa e especial. Nos vemos outro dia, quem sabe onde…
E sim, eu vi o show das cadeiras. Velho? MUITO! Mas você não tem ideia do que é acordar no dia seguinte sem uma dor nas costas (Não tenho mais saúde para ficar 3h em pé parado vendo um show… Conforto agora fala mais alto!)