1645 dias depois…

Não é um marco onde as pessoas se apoiam, mas eu não sou todo mundo e me apoio onde eu realmente sentir que vale a pena. Há 1645 eu comecei essa jornada aqui na Europa. 1645 dias são os famosos 4 anos e meio. Já no “longíquo” (e diferente) 2 de março de 2017 eu desembarcava em Lisboa, pegava o carro alugado e partia com meus 38 kilos de coisas para Coimbra. Antes eu falava “parece que foi ontem”, mas a verdade é que não lembro das minhas primeiras aflições e descobertas naquela cidade. Contei um pouco aqui sobre isso, mas mesmo relendo eu tenho poucas lembanças de como me senti com cada novo ponto aprendido ou cada porrada que a vida me deu – E pode acreditar que foram várias…

IMG_1988IMG_4920

Mas eu me lembro do porque eu escrevi aquele texto. Lembro da conversa no pub com a menina que tinha acabado de conhecer em um aniversário de outra (E sim, nunca mais vi ninguém daquele dia. Nem por esbarrão na rua…). Lembro que tudo girava em torno de como a vida ensina e a gente aprende de maneiras diferentes. Muitas vezes aprendemos da maneira simples, outras o mundo parece virar ao avesso e temos que nos adaptar com o que nos restou. E também muitas vezes não aprendemos e vamos tropeçando e quase desistindo no meio do caminho…

Essa vontade de desistir existe em muitas pessoas e comigo não é diferente. Brinco, mas com um fundo de verdade, que a cada ano eu penso um total de uns 2 meses sobre desistir e voltar. Já foi mais intenso, mais sério… Mas, como disse antes, a gente aprende até a controlar os pensamentos e vontades para se adaptar ao que acontece ao redor. Talvez essa tenha sido essa a minha principal mudança de vida…

Quando embarquei eu tinha planos totalmente diferentes. Não eram muito definidos na verdade, mas eu queria levar a vida de maneira calma e ir explorando as possibilidades que fossem aparecendo. Eu tinha a ideia de passar um tempo maior em Coimbra e depois, com calma, buscar coisas maiores em outras capitais… Mas a vida seria cruel nesse sentido e me fez embarcar em uma jornada alucinada em pouquíssimo tempo. Fiquei menos de 3 meses em Coimbra. Perdi dinheiro com aluguel, com coisas que comprei que não consegui levar comigo, etc etc etc… Tudo porque em um intervalo de 40 dias, eu lesionei meu joelho, ficando sem andar por semanas (e não conseguindo jogar futebol até hoje), perdi o emprego e tive que me mudar para Dublin para começar a trabalhar 3 dias depois. Sem casa, sem noção de como seria e sendo forçado a recomeçar o que eu já não sabia se iria resistir.

IMG_8414

Sofri para caralho e ninguém (talvez os italianos que moravam comigo, sim) tem ideia do que foi quase desistir em novembro, não vendo um ponto interessante para se apoiar. Durante duas semanas eu fiz minha mala e comecei a olhar passagens e tentar dar um jeito de remarcar a minha de dezembro para antes e sair dali para sempre. Durante duas semanas eu deixei tudo pronto falando “Amanhã eu mudo a passagem e aviso no trabalho…”. 2 semanas. Mas, aprendi a esperar e encontrei novas coisas para me apoiar e seguir em frente. Em outras palavras, me adaptei ao que tinha.

Fui e voltei do Brasil de férias com a certeza que seria diferente. E em partes foi. 2018 cansei do tempo ruim de Dublin e de outras inúmeras coisas pessoais que aconteceram ali e consegui um acordo no meu trabalho e me mudei para Lisboa. Ali tive sol, tive comida boa e barata e até encontrei um lugar tranquilo para morar – Não era bonito, mas era aceitável. Nem parece, mas fiquei 1 ano e meio em Portugal (até hoje o lugar que vivi por mais tempo aqui na Europa) e estava muito bem adaptado com tudo: pessoalmente (2019 foi o ano que mais viajei na vida, ficando mais de 100 dias viajando!), profissionalmente (Até ganhei o “Funcionário do Ano” na empresa) e até financeiramente…

IMG_7071

Mas a enquietude começou a bater mais forte no final de 2019 e comecei a especular novos vôos. Meio que do nada, Barcelona apareceu…

Simplesmente o local que me apaixonei em 2010, que havia jurado viver e que sempre recomendava e tentava explicar (sem sucesso) o que era. Era hora de fazer as malas novamente, encaixotar tudo possível e mudar. Claro que a Barcelona que hoje enxergo é diferente da de 2010 e 2012. Tudo é diferente quando se compara entre uma visão turística e outra de morador. Mas, eu me adaptei de novo…

Sempre tive sorte de encontrar pessoas essenciais que me ajudaram DEMAIS nessas mudanças e nos diversos tombos e desânimos que rolam por aqui. Como expliquei no texto de 6 meses, tudo aqui é muito rápido e volátil demais. Se ama e se odeia com uma velocidade acima do normal. Hoje somos amigos inseparáveis, mas amanhã estamos bloqueados da vida. Infelizmente isso aconteceu comigo também (que sempre tentei manter amizades longas por perto). Mas alguns pontos importantes se mantêm…

Manoela foi minha salvadora da pátria em Coimbra. Creio que até hoje eu não consigo descrever o quanto ela foi essencial para mim. Porém, desde quando me mudei para Lisboa, nunca mais falei com ela.

Daniela e Carine em Dublin foram mais do que eu poderia querer e que nunca conseguiria agradecer o tanto que me ajudaram. Mas, a vida mudou e pontos obscuros fizeram a gente se separar pouco depois. No trabalho conheci o Fabrício que até hoje é o cara que me suporta para tudo na Irlanda, além de nunca ter ouvido um “NÃO” quando a matéria era ajudar.

Em Lisboa tive o Léo que não lembro de conhecer alguém mais tranquilo, sereno e sempre pronto para tudo. O cara que simplesmente falou “Eu vou fazer a tua mudança. Coloca tudo no meu carro e eu te levo, relaxa!”. E até hoje ainda bebemos e conversamos.

Aqui, além do Almy que divide o apartamento comigo e já conhecia desde Alphaville, tenho a Anna, o Renato e o Ricardo. Um trio que poderia facilmente levar para toda a vida e que transformaram essa nova vida (e esse novo normal) em pontos mais agradáveis…

OZYM8849PAFU1616

Sei que 4 anos e meio é pouquíssimo tempo para se comparar na vida, mas já é algo. Sobrevivi ao meu primeiro ciclo olímpico e já de olho nos próximos anos e desafios existentes. Crio esse desabafo para me lembrar, daqui a 4 anos e meio ou antes, que essa jornada no início forçou que eu aprendesse muito, mas depois mostrou que adaptação, coragem, medo e tesão para viver são necessários nessa aventura toda. Continuo com a mesma ideia de antes, não sei se será o último ano ou o início de uma nova jornada de 10 anos. Enquanto eu tiver lenha para queimar e meu coração estiver gerenciável, a gente vai continuando…

Agradecendo o que passou, o que não veio, o que aconteceu, o que acontece e o que machucou…

Porque TUDO fez parte dessa história. Sou um Matheus CaBeCa diferente de 2017, ainda bem! Certeza que aquele cara não seria preparado o suficiente para chegar aqui agora e enxergar tudo o que acontece da melhor maneira possível.

IMG_2934IMG_2936IMG_8727

Obrigado vida pelos 1645 dias. Obrigado quem me acompanhou parte até aqui… E seguiremos!

GLÓRIA A DEEEEEEUUUUUUXXXXXXXXXXXXX

Que tal compartilhar esse post? 😉

2 thoughts on “1645 dias depois…”

Deixe uma resposta