Com certo atraso escrevo sobre um dos melhores festivais que já fui, o Slam Dunk que aconteceu em Leeds.
Em 2019 o Slam Dunk resolveu testar as leis da física e o corpo dos velhinhos… Além do “básico” lineup do Festival, eles montaram um palco extra para o festival “Punk in Drublic”, que em 2019 reunia umas “bandas mais ou menos desconhecidas” como NOFX, Bad Religion, Lagwagon, Anti-Flag, Millencolin, Interrupters, Mad Caddies e Less Than Jake. Além deste palco, outros palcos/tendas desfilavam bandas que já fariam o festival emblemático para agradar todos os públicos possíveis (desde a galera de Simple Plan e New Found Glory, até os de Bullet for My Valentine, Silverstein, Story of the Year e Glassjaw, passando por The Get Up Kids, Saves the Day e Menzingers…). Se tem alguma dúvida, veja o LineUp abaixo por palco.
Enfim, por testar ao máximo a física, ficou impossível acompanhar tudo desejado. O jeito foi achar um espaço no palco “Punk in Drublic” e curtir a sequência insana de bandas fodas da vida.
O dia começou com The Bombpops, uma das bandas queridinhas de NOFX e afins e que abriu os trabalhos para um público que ainda chegava. Mas fizeram bonito e depois fui ouvir mais da banda e achei bem OK. Valeu o aquecimento.
Depois, o Anti-Flag acordou de vez a galera com seu set curto, rápido e que orquestra muito bem em festival. Todo o básico do quarteto (sem o batera original e com um cara que só fez back vocal) estava lá nos seus 35 minutos de show. Rodas, apertos de mãos, abraços, discursos pseudo emotivos e aquele esquema de “If someone goes down, pick them up. Respect one another and have a fucking great time together” – Não adianta, um show do Anti-Flag tu vai gritar mais que um doente e no fim estará sorrindo, pulando uma música nada a ver com um cara desconhecido do lado porque a banda mandou você fazer um amigo ali naquele momento. Vale muito…
Na sequência veio Mad Caddies e com um show curto mostrou o peso/nome de uma das bandas mais respeitadas pelo que fazem. O show de Lisboa por ter sido maior, foi mais interessante (e também cansativo). Um detalhe foi o vocal/guitarra puto com o som – o único ponto negativo do dia do festival… O som do palco tava nojento e mesmo na frente do palco, era difícil compreender ou ouvir bem. Quando você estava longe, o som sumia se um vento batia. Era bem absurdo. Uma pena.
Na sequência, com um som ainda BEM ruim, o Interrupters subiu ao palco e incendiou de vez o público. Creio que não exista atualmente uma banda tão simpática e alegre quanto o quarteto. Tecnicamente bem melhores do que quando os vi em 2014 no Amnesia, o Interrupters jogou na cara de todo mundo que já é uma banda grande com “apenas” 5 anos de existência. Todos os hits e “aquela que não podia faltar” estavam ali num show curto e muito bem executado, que fez a galera toda cantar (ou gritar) muito. Pausa rápida: casaria a qualquer momento da vida com a Aimee – A mulher é ESPETACULAR! Vida longa ao Interrupters e fico na esperança de vê-los para um show longo logo.
Depois foi a vez de sair um pouco do palco e correr para o palco Dickies, pois The Get Up Kids tocaria (houve uma troca na ordem das bandas e aí o TGUK tocou mais cedo). Confesso que não sou fã dos caras e conheço pouquíssimas músicas. Mas não me empolgou de começar a ouvir mais. Acho que eu estava tão “pra cima” com Interrupters que o Get Up Kids foi mais do que balde de água fria. No fim do show, mesmo a galera que curtia, falou que faltou os melhores sucessos. Logo, fica para a próxima.
Voltando ao palco original, Millencolin já se preparava para entrar e eu estava bem entusiasmado com a ideia de ver as músicas do SOS tocadas. Só que começou a chover… Não sei se foi o som ruim, a chuva, o curto tempo para o show ou reflexo do balde de água fria anterior, mas foi o show mais fraco do Millencolin que eu vi. Mesmo com músicas pesadamente sensacionais (Como 22, Lozin Must e Fingers Crossed), o show não empolgou e mesmo as músicas novas (bem executadas por sinal) deixaram um ar de “poderia ser melhor”… Uma pena!
Já com uma chuva torrencial, o Less Than Jake tentou (e conseguiu, devido ao álcool do dia todo na cabeça da galera) levantar a galera. Como eu tinha visto eles em Lisboa poucos dias antes, o show teve aquele feeling de “deja-vú”, mas que em nenhum momento foi ruim. Less Than Jake sabe como controlar um público e montar um setlist que faça você urrar mesmo embaixo de temporal… Look What Happened foi uma das mais urradas e terminaram, como sempre, com All My Best Friends Are Metalheads.
Ainda com chuva, mas um pouco mais fraca, Bad Religion trouxe novamente aula para os presentes. Sem enrolação e pouquíssima conversa com o público, despejaram hino atrás de hino, porrada atrás de porrada, necessidade atrás de necessidade, ensinamentos atrás de ensinamentos. Bad Religion não é um show, é tipo uma peregrinação à Meca do Punk Rock. Uma necessidade que você precisa fazer de tempos em tempos (ou PELO MENOS uma vez na vida). Escrever ou tentar explicar o que se passa ali, é uma tarefa BEM complexa e que passa uma superficialidade extrema, quando, na verdade, foi algo digno de uma bença divina. Faltou alguma música? Sempre falta em se tratando de Bad Religion. Alguém ficou PUTO com o show? Nunca se fica. Abrir com a trinca de Them and Us, Chaos from Within e Fuck You e fechar com Infected e Punk Rock Song, é daqueles setlists que faz marmanjo durão chorar copiosamente. Bad Religion é aula e nada mais.
E para fechar o dia, os “donos” da parada toda. Quem criou o Punk in Drublic (o disco, o festival, a ideia, a porra toda)… NOFX fechou o dia e o festival. É difícil “comparar” NOFX depois de um show do Bad Religion. Enquanto Bad Religion não para de tocar um minuto se quer, NOFX pausa, conversa, cansa e faz de tudo para tentar não tocar música. Mesmo com 23 músicas no setlist, eles poderiam tocar quase 40 músicas facilmente se quisessem. NOFX há muito tempo mudou e é isso. Um bate papo com músicas eventuais. Quase nada é novo na apresentação dos caras e a galera espera pelos pontos antigos. Não que isso seja ruim, NOFX sempre será NOFX, e bandas que tem essa carta na manga sempre fazem shows bons. O problema é tocar às 21h de um dia que começou às 11h e passou por um temporal e chegou ali. O cansaço já falava mais alto do que a vontade de ouvir um Linoleum tocado bem perfeito na frente. O show foi até 22h30 (quando era para terminar às 22h), mas a vida quis assim e eu terminei o dia exausto, morto, com dores em todo o corpo, mas feliz. MUITO feliz.
Acompanho o lineup de Leeds há um tempo e era um dos “festivais que eu queria conhecer”. O Slam Dunk realmente é BEM organizado (estamos no UK né?) e a questão de transporte do centro até o festival, a estrutura do local, dos palcos, a forma que você chega, caminha, se acha e afins, é EXCELENTE. Desde locais (e variedade) para comer até para beber (tudo bem que as filas são de kms… Mas hey, estamos na Inglaterra né? Eles bebem para caralho!!). Como sempre o festival se divide em um final de semana entre “norte e sul” (Leeds e Hatfield), com as mesmas bandas nos dois dias. O preço é MUITO acessível (£65 – 68€) pela quantidade de bandas e afins que você tem durante o dia todo. De verdade, eu esperava bem menos do festival e fiquei completamente satisfeito. Valeu muito a pena… Só não dá para falar “Volto ano que vem”, porque a aposentadoria está bem próxima. Mas, vai que eles tentem desafiar a física novamente e tragam um outro punhado de insanidade na vida, por um dia, por um preço bem OK e que compense as dores nas costas né? A gente nunca diz nunca, mas fica a certeza que valeu cada centavo e dor.
Valeu Leeds! Valeu Slam Dunk! Até um futuro…