Talvez você esteja se perguntando a razão deste post estar aqui, porque a “Europa tem saúde pública e ninguém paga nada por isso”, não é mesmo? Muitas pessoas têm essa ideia e simplesmente esquecem da parte de saúde, achando que por ser pública e tiverem o visto necessário, serão atendidas e não terão nenhum problema…
REALIDADE
Existe sim saúde pública, mas não espere um atendimento EXCELENTE e muito menos “rápido”. É comum ver brasileiros que precisaram usar hospitais ou médicos por aqui a exclamarem “Que saudades do SUS” – E não, não é mentira.
Para não ficar apenas focando no “me disseram” ou “ouvi dizer” que eu tanto odeio, vou contar uma historinha simples que eu passei em Coimbra… Em abril/2017, durante um jogo de futebol, meu joelho saiu lateralmente (ele fez aquele “estilingue” para o lado) e ficou “solto”. A dor foi insana, mas como estava de carona e era meu primeiro dia ali, sai do campo e coloquei gelo aguardando o término do jogo para voltar para casa. Estava há um mês em Portugal e não sabia como funcionava a saúde e afins… Perguntei para os caras o que eu fazia e quase todos foram unânimes: “Você tem remédio em casa? Vai e toma… Você não quebrou nada e no hospital no máximo vão te dar uma receita para o remédio, se bobear nem chapa vão tirar porque você consegue andar…”. Claro que conseguia andar porque estava “quente” e sofri horrores para subir até meu apartamento (Morava no 4º andar e não tinha elevador!). No dia seguinte não conseguia andar. Comecei a tomar remédio, colocar gelo e passar pomadas… 2 dias depois uma amiga me comprou aquelas “joelheiras com tensor” e consegui pelo menos caminhar. Com medo que fosse algum ligamento ou afins, fui até o “médico da família”. Como não tinha feito cadastro, levei tudo, a mulher não queria aceitar o meu contrato de aluguel como prova de endereço, que eu precisava de pelo menos uma carta do banco ou uma conta em meu nome… Expliquei a situação e ela fez meu cadastro para aquele centro. Achei que fazendo o cadastro e por ser uma “emergência” eu teria acesso ao médico e ela quis marcar minha consulta… “A próxima data disponível é 14 de junho” – estávamos em abril.
FIM DAS CONTAS
Não marquei consulta, fui embora de taxi e continuei meu tratamento com anti-inflamatórios, gelo e rezando para que nada grave aparecesse. Dois meses depois me mudei para Dublin, ainda com certa dor e desconforto, mas foi passando e quando retornei para o Brasil, em dezembro, fiz todos os exames necessários…
“Ah, Portugal que é um problema… Dublin deve ser melhor”. Não. Acho que é até pior… Sabe o que no Brasil dão de “dipirona” e soro? Em Dublin te entopem de antibiótico. Qualquer coisa é um novo antibiótico… E fazem mil exames e dificilmente encontram alguma coisa. Tive amiga próxima que ficou internada, fizeram exames quase que diários, mudaram antibióticos e ela saiu do hospital, uma semana depois, e foi para o Brasil se tratar. Ah sim, o hospital custou 400€…
A demora é comum (inclusive no Brasil, certo?), então acho que é o único ponto em comum… Claro que se a sua doença for grave (e tive um exemplo também disso), eles não vão desistir enquanto isso não acabar – mas a conta sempre vem. Nada é de graça… E uns dias no hospital, com exames e afins, vai te custar quase 1000€.
CONCLUSÃO
Toda essa longa história foi necessária para te explicar o seguinte: PÚBLICO NÃO QUER DIZER DE GRAÇA. Tudo na Europa se paga. Muitas vezes não caro, mas sempre uma parte (e lembre-se que mesmo uma parte aqui, dependendo do seu salário, pode pesar BASTANTE para você).
“Então contrato um planinho de saúde” – Todos os planos por aqui seguem a ideia da “coparticipação” (como a Unimed tem) e dependendo do seu plano (e do valor mensal) paga menos. Mas sempre vai pagar algo. Existem planos de 5€ em Portugal, mas a cobertura é quase nula e a única vantagem é ser atendido “mais rápido” (mas a consulta vai ser mais cara)… Então é um assunto BEM importante para se pensar. Ainda mais se você está pensando em mudar com família e filhos para cá… Busque novas informações e coloque esse custo inesperado no seu orçamento. Como diz dna Lucia (minha mãe), “plano de saúde a gente paga e reza para não usar, mas fica tranquilo quando precisa dele”.