Antes de começar meu texto básico de um ano fora do Brasil, acho que é necessário uma leve (e talvez seja uma pesada, mas necessária) introdução…
Introdução…
Há um ano saia do Brasil e fiz o caminho que muitos já fizeram: larguei a vida, vendi carro, larguei apartamento próprio (e completamente pago) e toda comodidade de um trabalho bom (numa época aguda de crise) e um salário que me dava certa tranquilidade na vida (não falei luxo, ok?)…
Busquei uma nova vida. Queria viver o mundo gigante que já tinha conhecido antes… E talvez essa hora comece a diferença entre muitos os que estão "no mesmo barco" – Eu já havia feito 3 mochilões na Europa, conheci a parte leste do Canadá e também conheci boa parte da América do Sul (me faltam Bolívia, Venezuela e Paraguai, além das guianas vai…).
Um ano depois…
Feito a necessária introdução, existem diferenças e problemas para os que estão aqui "vivendo o sonho" e eu. O grande problema que você vê nessa galera que sai do Brasil, é que eles não tem parte (ou nada) do que eu tive (e não estou menosprezando… sendo apenas um fato) e isso acaba sendo crucial do que eles vivem/vêem pelos lados de cá e do que eu acabo vendo/vivendo. São visões e conclusões diferentes – onde não existe certo ou errado. Mas enquanto uns enxergam uma ilusão de mundo perfeito, eu acabo, por pura noção, enxergando que nada é belo assim…
Eu saí do Brasil dia 2 de março com duas malas e uma bagagem de sonhos absurdos. Fui empregado e vi que isso não era sinônimo de algo concreto. No primeiro mês vi que meus planos seriam difíceis de se realizar vivendo em uma cidade pequena de interior. Meio mês depois vi meu contrato de trabalho cancelado e eu tendo que procurar algo novo. Achei com menos de 1 mês. Em Dublin e lá se foi mais uma mudança, onde tive que largar metade (literalmente) das poucas coisas que trouxe para "cá".
Aqui descobri uma cidade com uma oferta grande, mas com pouquíssima noção de concreto (logo para um ariano…). Aqui descobri um novo significado para superficialidade e falsidade. Descobri que a ilusão e a falsa satisfação andam de mão dadas e vi, pelo lado ruim da coisa, que isso acaba deteriorando sua vida. Aqui existe a falsa noção de sucesso de uma pessoa pós-graduada lavando banheiro. E isso transforma demais – Quem lava, quem suja e quem enxerga isso do outro lado. Todo mundo aprende um pouco, mas o que eu enxergo é uma falsa visão de comodidade que nunca deveria existir.
Mas para mim, a vida é mais complicada do que eu imaginava. Meus desafios são tensos e é complicado até de traçar planos e coisas novas nesse tornado que vivo. Hora estou bem. Hora estou mal. Hora quero voltar. Hora quero viver as minhas loucuras…
Em um ano vi a melhor banda do mundo. Vi a banda que me guiou noites e noites. Vi uma banda que nunca pensei em ver e até a que eu sempre sonhei. Juntei dinheiro para fazer o que eu queria. Rompi barreiras financeiras e me senti aliviado. Me senti pressionado e convivo diariamente com o medo de um novo fracasso. Aprendi que a vida aqui é baseada em fugas. Você foge do que estava vivendo e foge do que vive aqui para se sentir vivo e se desafiar o suficiente para se sentir vivo. É redundante, pois é assim que deve ser…
Foi um ano com coisas que eu não tinha planejado. Foi um ano de uma dor absurda. De ficar sem andar. De achar que tudo estava acabado. De se sentir traído. De se sentir sozinho. De chorar absurdamente. De comer coisas esquisitas e de assustar (pelo bem ou pelo mal) com os preços. Foi um ano de conhecimento. De se sentir seguro. De se sentir parte de um mundo que não nota em você e te deixa livre para fazer o que deseja, mas te cobra por isso. Foi um ano que convivo com um medo diário. Foi um ano que tive um novo significado de saudade e sei que é algo totalmente individual.
Foi um ano que reciclei e reencontrei pessoa
s, e fortaleci outras. Foi um ano que compreendi que novas pessoas podem ser especiais em pouco tempo e que isso também é um problema, pois a frustração chega em doses absurdas quando algo se rompe. Mas sou grato por cada uma, do seu jeito e no seu tempo, que passaram por aqui. Foi um ano que a gente aprende a controlar a solidão e, mesmo para mim que sempre gostei de ficar só, vi que ser sozinho é um problema bem grave.
Foi um ano bom, pois estou vivo e caminhando. Carrego minhas sequelas, mas sei que posso muito mais e continuarei minha saga por aí, porque depois de um tempo você aprende que ter raízes é a maior bobagem do mundo. Aprendie que os ventos da vida sopram para você viver coisas novas em novos lugares… Então eu vivo aqui até o próximo vento chegar e me guiar para uma nova odisseia. E assim vamos levando…