Estou tentando ajustar minhas ideias para mostrar o quão importante foi ver o show do The Ataris em Glasgow no sábado. Estou tentando criar um roteiro para mostrar o básico, mas não consigo sem tentar ambientar toda a razão que me levou até lá, "só" para ver um show…
A principal é que agora eu posso falar que, depois de 16 anos, eu vi um show do The Ataris onde foi tocado todo o cd "So Long, Astoria" (vulgo o melhor CD da vida dos caras). Só isso já valeria a viagem para a Escócia, o sofrimento com o inglês indecifrável e até as dores nas costas e pés de toda a epopeia… Vale e valeu!
Mas como todo grande momento, existe um lado bom e um lado meio tenebroso…
The Ataris mudou muito do So Long Astoria até hoje. Passaram 16 anos do último bom álbum dos caras e Kris Roe ganhou peso, perdeu dentes e cabelos e tenta manter (sabe-se Deus como) a banda que ele criou e carrega o nome para onde for. Ele sempre foi o The Ataris, mas parece que alguma coisa se perdeu em algum momento… Talvez fosse o "Welcome the Night" que até hoje eu não consigo compreender (e suas duas versões totalmente diferentes), ou até o jeito que a banda se desfez absurdamente em 2005… Sei que The Ataris mudou e ficou nítido no sábado o quanto isso foi ruim.
Cada vez que vi The Ataris, eles estavam com uma banda diferente. Dessa vez não foi diferente. Apesar do batera ser absurdamente bom, o guitarra não tinha decorado todas as músicas e o resultado foi ter umas 10 folhas com os acordes e afins que ele precisava tocar, coladas no palco… Parece mentira e é um pouco broxante. Kris Roe contratou os caras para tocar e ele, por ser "a banda para o mundo", acaba fazendo tudo. Ele vende camisa, CD, fala com as pessoas, monta o palco e sai correndo após o show para continuar a saga de vender, tirar foto e falar com as pessoas… Ele deve gostar, mas fica nítido a "separação" de músicos e ele… Coisa bem diferente do The Ataris que foi ao Brasil em 2006, onde tinha pelo menos "amigos vivendo juntos"… Mas, vida que segue.
Mas aí é impossível falar mal de "So Long, Astoria" – não tem como. É o melhor álbum do The Ataris. Cada música tem uma história na minha vida (e de todo mundo que curte a banda), cada qual com um momento diferente e uma imagem que se completa perfeitamente entre melodia, letra e vida… Pessoalmente falando, So Long foi o álbum que mais ouvi entre os anos de 2002 e 2006. Então nada conseguiria estragar algo tão perfeito e nostálgico como este momento.
Ao primeiro acorde de "In This Diary", eu esqueci todos esses "problemas" acima e berrei com todo mundo cada parte de todas as músicas. O So Long foi tocado na sua íntegra, mas com uma ordem diferente. Além das 13 músicas do CD, o Kris tocou 2 "extras" (San Dimas e Broken Promise Ring) de forma "acústica"… Como esperado, foi um show de lavar a alma. Difícil definir o que é ouvir as músicas que guiaram a primeira grande mudança da minha vida, na minha atual e segunda grande mudança. Pessoalmente foi algo bem complexo e gratificante. Difícil descrever as imagens que vieram na cabeça, o filme que passou através de cada música ou refrão. Difícil apontar um momento ou uma memória apenas… Realmente é impossível listar tudo o que pensei enquanto berrava com todas as minhas forças…
O que fica desse show é ver que a energia da música é algo absurdamente mágico. É ver que ela me transporta para locais e me faz viver novas aventuras, conhecer novos lugares e culturas diferentes… É aquele mais do mesmo de "onde o rock me levou…", mas que sempre me deixa mais grato por tudo que passei até aqui.
E do The Ataris, é aquela máxima de que o Kris sabe como se fazer notado e, mesmo capengando pelos anos, compreende o grau que sua música transformou a vida de muitas pessoas. No final do show quase todo mundo que estava ali foi dar um abraço, comprar algo ou apenas tirar uma foto e agradecer pela noite. Eu fui um dos últimos e tirei a foto abaixo… Como já havia comprado o moletom antes do show, ele me reconheceu e falou "Hey Brazil… Gostou do show?". Agradeci o show e repeti o que falei para ele em 2006 – "Obrigado por mostrar que a música e as lembranças não morrem. Passou um filme de 2002, 2003, 2004 na cabeça e tudo porque So Long acompanhou minha vida nesses anos todos… Obrigado por ter feito essas músicas e continuar tocando…" ele juntou as mãos e falou a mesma coisa que 2006 "Eu te prometo que ainda vou continuar por aí tocando… Te vejo no Brasil mais pro fim do ano, eu tô tentando ir para lá…" "Eu estou morando em Dublin…" e ele "Então a gente se vê ano que vem, ok?" – E tem como responder não?
A última cena foi ele me abraçando com um "Obrigado por curtir desde Make it Last, provavelmente você era o único daqui que curtia desde o 1o CD…" e eu falei "Foi a primeira música… O que eu poderia fazer?" Nós rimos e eu fui pro hostel, a noite já tinha valido a pena…