Rancid e Green Day–Dublin 2017

Era 1999 quando conheci Rancid. Foi com Roots Radical e, creio na minha santa ignorância, que essa foi a primeira música que muito moleque ouviu do Rancid (talvez seja Timebomb…). Mas 1999 foi um ano que conheci muita banda, muita! The Ataris, Millencolin, MxPx, Bad Religion, Rancid e muitas outras. Quis focar nesses 5 exemplos para exemplificar que todas eu vi ao vivo há muitos anos (a última foi Bad Religion no longínquo 2008), menos Rancid. A espera durou 18 anos, quis o destino que completasse uma maioridade para não ver um show, mas uma porrada musical. Rancid não faz show, ele toca músicas para um público. Foi isso que eu e uma galera (pequena talvez) presenciou ontem no bonito-organizado-cenariodefilme-bacana Royal Hospital Kilmainham. Tim Armstrong com sua barba a la Robotinik do Sonic entra e sem um boa noite começa com Radio. A iteração com o público é mínima, beirando o inexistente, mas ninguém se importa. "É Rancid, PORRA!" seria uma tradução livre para todo mundo que estava ali – não importando a nacionalidade.

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Se falta carisma, sobra porrada e perfeição nas músicas. Ouvi-las ali no momento, é a sensação de estar com um fone de ouvido, só que em uma roda de amigos, com todos gritando e curtindo ao mesmo tempo. O show foi rápido, faltaram músicas (ninguém lembrava uma em especial, mas faltou aquela, sabe?), mas Rancid é a prova que não importa se são 40 minutos ou 1h30 de show, quando a banda é boa, o tempo voa e foda-se. Todos os clássicos estavam ali, presentes e orquestrados – Radio, Roots Radical, Maxwell Murder, Timebomb, Journey to End of The East Bay, Olympia WA, algumas novas e terminando com Ruby Soho.

Tim Armstrong é uma peça icônica. Mal toca a guitarra, "grunhe" um inglês que mal se entende, mas está ali se balançando e agitando uma banda que ele fez crescer em perfeição. Se estão velhos, é a prova que a idade não importa e que essa experiência faz a banda conhecer os "atalhos do palco" para se fazer um show. Tem muita banda hoje por aí que precisaria de 10% da noção de um show do Rancid. É o problema do mundo…

Foi um show de macho, sem MiMiMi. Música, roda punk e quase sem obrigado para o público. A parada é a música e ela não precisa de espetáculo, apenas ser tocada com a noção linda e certa que o universo ajudou a fazer. No fim de Ruby Soho, não adiantou a gente puxar "One More Song" – o palco já estava sendo desmontado…

 

Há quase 7 anos eu ia pela primeira vez ver o Green Day. Sempre os considerei a melhor banda do mundo. Green Day, para mim, foi o motivo de entrar nesse "mundo rock". Se esse mundo me fez ir até o Canadá em busca de um festival X, a porta de entrada foi "o clipe que o carro de polícia voa" e o trio da Califórnia responsável por aquela música de 3 acordes. Daí, em 2010 eu ratifiquei e falei para todo mundo: Green Day é a melhor banda do universo.

Mas isso era em 2010…

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De lá para cá, foram 4 (5, ok…) cd’s lançados – Uma trilogia escrota, um apanhado de melhores partes dessa trilogia e o último CD que dá o nome da tour, Revolution Radio. Onde o Green Day conseguiu os holofotes novamente e muita (MUITA) crítica positiva pelo trabalho (mesmo eu achando mais fraco que seu "antecessor", 21st Century Breakdown). Porém essa tour me fez sentir novamente em 2010. A sensação existente é que ainda estamos entre 2004-2005, talvez porque o Green Day tenha vivido o seu melhor (e maior) momento ali. O Green Day tem 27 anos, mas se você olhar seu público "fiel" tem ao menos 10 anos menos que isso. Então a banda sabe se adaptar e faz um show para essa molecada – mesmo seus integrantes beirarem os quase 50. O setlist prova o que eu digo. São 7 músicas (de 25) do American Idiot, apenas 2 do 21St Century, 6 do CD novo, 4 do Dookie, 3 do Nimrod e uns outros covers e é isso…

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Mas o papo é que ali vemos um show de verdade. Sobra "enrolação" nas músicas, mas quem se importa? É divertido! Billie Joe está cada vez menos querendo tocar guitarra. Ele descobriu que seu talento é entretenimento e, com o carisma mais do que nunca treinado, orquestra o público do jeito que ele quer. Tem explosão quando deseja, silêncio quando manda, gritos quando levanta o braço e discursa sobre o quiser. Se o roteiro é o mesmo, não importa. O sorriso, talvez forçado, contagia qualquer um e quebra o coração da galera. Prova do que estou falando é que Jason White (o que até então era o "4o Green Day") não sai do palco – no Brasil em 2010 ele abandonou na hora das "antigas", aqui ficou em todas, tocando como guitarra principal muitas músicas.

O show é foda. Simples assim. Green Day põe a criança de 10 anos até o velhinho de 50 para pular. É gente chorando em Boulevard of Broken Dreams e outros, como eu, indo à loucura por Welcome to Paradise. É você pular numa música que você odeia, porque o Billie Joe começa a gritar "Lets go crazy Ireland" ou porque a "mãe" do lado aponta para você e fala "JUMP" e você não consegue dizer não… O show é elétrico, completo (mesmo faltando 100 músicas) e você saí de coração aliviado por viver aquilo.

 

O roteiro do sucesso é o mesmo. Sobra "hey ho" para tudo quanto é lado. Tem Beatles no meio. Tem metais. Tem coelho. Tem papel voando. Tem participação do público. Tem quilos de explosão prontos para serem lançados no ar. Tem fumaça e tem muito mais… Green Day não é apenas um show de Rock, é uma celebração de tudo e todos – como discursa BJ no início do show. Se parar muito para pensar, Green Day passou de ser um show de uma banda, para um cerimonial completo. BJ já disse isso no Bullet in a Bible "somos responsáveis por fazer o melhor momento da vida das pessoas nas próximas 2 horas e é para isso que estamos aqui". O problema é que eles t
ransformam a vida para sempre…

 

Cresci ouvindo Green Day. Em 1998, então com 14 anos, dna Lucia não me deixou ir até SP e ver o show. Esperei muitos anos. Tive banda cover deles, acompanhei, colecionei CDs, ajudei em fã-clube e, como tudo na vida, me distanciei por conta do mundo "adulto" (o que essa galera que hoje curte, também vai fazer)… Eu tinha 26 anos quando vi Green Day pela primeira vez. Foi foda. Foi tipo divisor de águas. Foi indescritível e marcante… Hoje tenho 33 e falo: Eles continuam sendo a maior banda do Universo. Simples assim…

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