Para que falar dos 30 primeiros dias?

Ontem completei meu primeiro mês aqui. E não espere aqui aquele levantamento tonto de 1 mês de Portugal – que a maioria faz quando está no primeiro mês fora do país ou de casa.

Acho meio vago falar sobre os 30 primeiros dias. Afinal o que são 30 dias!? Você mal sabe o caminho de casa e já se passaram 30 dias! Tudo acontece de mais maravilhoso no primeiro mês – os preços bacanas, a cultura, a falta de violência, de perigo, de você conseguir um lugar para morar, se vislumbrar com uma vista qualquer, até achar o frio gostoso (!!!). Ou seja, TUDO no primeiro mês é lindo! TUDO!

O problema está no restante: Na rotina criada e muitos vezes vazia. Na falta, na saudade de coisas tontas. Em não ter ninguém próximo no seu aniversário (e o meu foi nos meus primeiros 30 dias), a dificuldade para amizades, ter o silêncio como melhor amigo, o frio que não passa… Aí que mora o problema! Todo mundo escreve dos primeiros 30 dias, mas ninguém fala sobre o “90 dias longe", porque aí o buraco é BEM mais real (e MUITO mais embaixo do que a putaria carnavalesca dos 30 dias iniciais). E na real, todos os textos são iguais, porque eles contam, PASMÉM, seus 30 primeiros dias. São os dias que você fica andando a esmo, sem direção ou razão e apenas para se acostumar ao local. O trabalho nem passou direito e já se foram os 30 dias. Você mal se acostumou com o horário do ônibus diário – lá se foram 30 dias. Você não sabe o nome das 2 ruas que pega todos os dias e lá se foram 30 dias. Você ainda não compreende o sotaque, lá se foram 30 dias. Cara, é muito bobagem!

É muito ridículo e vazio. Eu já devo ter feito isso em algum momento da minha vida, mas a gente aprende (SIM!). Não dá para falar que você mudou em 30 dias. No máximo você se acostumou a acordar em outro momento (eu aqui "ganhei" 1 hora a mais de sono antes da natação – OH!), em outro local, você se acostumou em comprar comidas diferentes. Você ficou maravilhado com o valor de algo (pro bem ou pro mal). Então você não mudou, você está ainda maravilhado, abobalhado e achando que "aqui é o mundo que você quer pra tua vida inteira" – o problema é que você não se ligou que a tua vida inteira tem mais do que 30 dias…

Encontrei um brasileiro no ônibus de volta do trabalho numa sexta-feira (acho que 2 semanas atrás), ele perguntou o que eu estava fazendo e tudo mais. Ele ficou assustado com a minha resposta normal e disse: "Cara! Na tua situação eu estaria dando cambalhota de alegria! Você está meio triste, não?!" e respondi "Não camarada… O problema é que enquanto tu devia tá bebadasso às 4h da manhã ontem, conhecendo várias minas e se pá pegando até alguma delas… Eu estava quase acordando para vir para cá trabalhar. A vibe é outra. Você está aí maravilhado, eu tenho que achar isso aqui rotineiro e me adaptar ao ritmo fora faculdade, fora curso, fora ‘não tenho aula de sexta’. A parada é muito mais embaixo!"

Sem querer ser grosso, mas a verdade é puramente essa! Uma galera já vem com a viagem de volta marcada. Já vem com as viagens "a passeios" compradas e com os hostels reservados nos diversos países que ela pretende conhecer. Vem com um cronograma de coisas para fazer e praticamente "de férias" da vida que deixou no Brasil (com os sem contas, o papo não é esse!)… Eu não estou nessa vibe. Vim para trabalhar, vim para ter um horário laboral (UHU! palavra TUGA!) das 9h até 18h e comer de "marmita" todo dia. Vim para ter que voltar para casa e cozinhar o almoço do dia seguinte. Vim sabendo que a balada de 5a feira ia ser tomar uma cerveja rápida, vendo o Facebook e cair na cama. Vim sabendo que a sexta-feira continuaria sendo o dia mais cansado da semana e eu estaria morto (e irritado) normalmente…

Então, voltando ao assunto principal, os meus 30 dias, são apenas os primeiros de um número que eu não tenho noção da totalidade. Não tenho ideia se serão 300 ou 1000 dias. A vida tem coisas boas e coisas ruins. Tem dias excelentes e dias chatos. A vida aqui é a mesma de qualquer lugar. A diferença é que eu estou com uma vista de quarto diferente. A diferença é que o valor das coisas é outro, a moeda também. A diferença é que eu estou nadando em uma piscina diferente. A diferença é que eu não falo com nenhum amigo novo, meu contato com a "vida do lado de lá" é o WhatsApp, com 4 horas de diferença e que está engessando normalmente várias amizades…

30 dias, na boa… A vida está igual. Até porque ela não mudou de nome, ainda se chama vida e a definição todo mundo já sabe de cor.

Que tal compartilhar esse post? 😉

1 thoughts on “Para que falar dos 30 primeiros dias?”

  1. Bom dia cara, tudo bem? Sou de Osasco-SP, Estou gostando muito das suas postagens referente a Coimbra, eu e minha noiva queremos tentar a vida ai, e suas postagens me animou muito para tirar um pouco o receio e ir de vez. Se puder me dar umas dicas e caminhos, agradeceria muito. Meu e-mail rafaelcn1993@hotmail.com
    Obrigado Rafael

Deixe uma resposta