Amnesia Rockfest 2014

Sobrevivi ao impossível Line Up do Amnesia Rockfest. Com um adendo que não fiquei das 11h até às 2h da manhã de nenhum dia e "ignorei" todos os maiores headliners do evento. Mesmo assim passei pela maioria dos shows que quis ver e ainda tive tempo para boas e agradáveis surpresas. Para organizar melhor, conto como foram os dias e depois faço um balanço geral do Amnesia para mim, ok?

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A sexta-feira começou lenta e cansativa com uma fila enorme na porta e sem muita informação. Pessoas formavam uma fila indiana e ninguém sabia a hora que ia abrir ou se tinha algum problema. O jeito foi esperar até por volta das 11h30 para a fila começar a andar… Se alguém queria ver as bandas de abertura do festival, perdeu… Consegui entrar 11h55 e só tive tempo de correr para me amontoar com uma galera enorme para ver Streetlight Manifesto. Show coeso e com todos os hits e músicas sendo cantadas – com os "pananana" básicos para acompanhar os metais. Não estavam alegres como no Brasil, mas um show que ninguém saiu triste. Na correria básica do festival fui até próximo da entrada para ver o Belvedere que já estava na 3a música. Show tranquilo e rápido, sem enrolação (as bandas nos palcos "alternativos" tinham 30 minutos de show apenas). Deu tempo de ouvir 4 músicas que eu conhecia e pronto… Dali voltei para o palco principal em tempo de ver o início do New Found Glory que acabou com todas as dúvidas se era bom ou ruim. É ruim. Na verdade, eu não tenho mais idade para curtir NFG… O show é para adolescentes e molecada na puberdade, outro público. Quem está nessa vibe gostou.

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Primeira pausa para uma água rápida e garanti um lugar bom para o The Gaslight Anthem. Sou fã e admito que qualquer coisa estaria boa vindo deles. O show foi sem surpresas – abertura com 59 Sound, passeando por todos os possíveis hits e conhecidas – Howl nesse meio, para finalizar com Backseat. Todos elegantes (O Brian até de blazer…) e estranhamente com um som de "piano" nos pedais da 3a guitarra… Ficou esquisito. Tomara que não usem isso no próximo álbum…

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Terminado o show, almocei um hot-dog e parti para os palcos "alternativos" que começaria uma saga de um show depois do outro. Para explicar: Tinham dois palcos alternativos um do lado do outro. Enquanto tinha show em um, o outro era montado para a banda seguinte e assim os shows eram na sequência perfeita. Queria ver Fishbone que tinham me falado bem e não curti, peguei metade e já estava pedindo para acabar. MxPx veio com um show que eu não esperava mais animado e de surpresa. Se faltou Tomorrow is Another Day, sobrou clássicas como Doing Time e Andrea. Ponto positivo para uma banda que eu ia ver por "obrigação". Valeu pelo tapa na cara. Na sequência veio H2O e o seu show rápido, com palco cheio de "amigos" da banda e o público ovacionando e urrando as músicas.

Depois foi tentar buscar um local (e não conseguir) perto do palco principal onde NOFX fazia o seu show normal e quase sem mudanças de anos pra cá. NOFX, para mim, é aquela banda que você vê uma vez e não precisa de outra. Os bons clássicos já vão ter tocado e nenhuma música nova te anima a ir e esperar eles tocarem (e eles não tocam). Enfim… Um show do NOFX.

Com esse desânimo do NOFX, sai do Festival para dar uma volta e comer algo fora que era mais em conta. Voltei para ver Brand New que um casal que tinha conversado no Gaslight me indicou. Banda boa, mas que preciso ouvir de novo para ver realmente se é boa… Nota 5. Sem nada de especial. Voltei para os palcos alternativos e acabei a noite por ali na sequência das porradas de Strife – estilo banda que berra e são pesadas e berram por serem pesadas… O vocalista fez o show inteiro na roda que se formou na frente do palco e acabou com a testa sangrando (essas bandas meio sXe…). Depois veio Alkaline Trio e por um show de 30 minutos não brincou em serviço e deixou mesmo quem não conhecia muito cantando tudo e mais um pouco (claro que acabou com Radio). Depois entrou outra no quesito gritaria que era a Earth Crises – que uma galera conhece das antigas e curte bastante… Eu tava do outro lado e só acompanhei um "tiozão" arrumando um palco. Camisa xadrez por dentro da calça e a cara do caipira para o senhor Trever. Face to Face me sobe ao palco com esse caipirão no vocal e põe praticamente o Amnesia para cantar e berrar novas e velhas canções… F2F é FODA mesmo. Sensacional… Na sequência encerrei minha noite com o primeiro show do Misfits que vi na vida. Demorei anos para isso e acabei p
or ver um no Canadá de 35 minutos. Só dali conhecia 5 músicas… Imagina um show inteiro hein? hahahahha…

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As costas, os pés e os joelhos já berravam por clemência e resolvi fazer o caminho até o hotel deixando para trás o Blink, Suicidal Tendencies e o Punk Rock Karaoke… Coisas da vida de gente velha…

O 2o dia começou com fila novamente, mas algo menor (pelo menos do que eu consegui enxergar) e o portão foi aberto às 11h e deu para acompanhar tranquilamente o show de abertura do dia com o Fifty Nutz. Não vou baixar nada deles, mas valeu para passar o tempo enquanto o palco era preparado para o Anti-FLAG! 4a vez que eu vejo os pequenos e barulhentos caras de Petersburgo e digo que essa foi a mais "porrada". Talvez por ter o tão emblemático "Brothers and sisters… Turn to your right and your left. Extend your hands. Shake your hands. Make a new friend. This is your memory. This is your community" e eu JURO que era a parte que faltava dessa vida de Anti-FLAG. De música nada de surpresa: Press Corpse abrindo e Power to the Peaceful fechando com o batera tocando no meio da galera… Já visto no Brasil.

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Depois dei alguns passos para o outro palco que começava uma banda canadense de punk rock chamada Ukko. Legal e divertida para passar um tempo. Talvez role uma procurada para baixar… E pouco depois foi a vez do Me First and Gimme Gimmes aparecer e botar todo mundo para cantar covers novos e antigos. A banda é divertida e o Fat Mike parece bem mais alegre tocando com eles do que os shows do NOFX. Ele não para no palco, anda para todo o lado e tudo mais… Diferente do visto no dia anterior.

Depois dali parti para a melhor surpresa do Festival: The Interrupters. Não conhece? Baixe! Sério! Parece um Rancid (O Tim Armstrong estava no festival e tocou 2 músicas com eles – fotos abaixo!) com vocal de Dance Hall Crashers. Sensacional e digno de aplauso. Sério.

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Passada a surpresa, foi hora de um hot dog e um refrigerante para acalmar o estômago e ouvir – de longe e tranquilo o The Used. Não esperava nada de mais e nada aconteceu mesmo… Na sequência: Lagwagon – com um palco com Rancid, NOFX e Face to Face acompanhando o show Joey Cape e seus amigos desfilaram as clássicas e conhecidas da banda. Se alguém não conhecia as músicas que tocaram, merece apanhar forte. Dali, dei uma olhada no All That Remains que eu não lembrava ser tão metal e berrado – para mim era coisa mais leve… Erros do destino. Depois uma descansada rápida e começamos a "sequência alternativa" do dia.

Ignite foi o primeiro a pintar com pinta de jogo ganho e energia de sobra. Animal e pesado como sempre. Depois veio um Cigar tão alegre por tocar que o vocal/guitarra até errou algumas partes de músicas e se desculpou pela falta de shows para praticar – Lógico que fecharam com Mr. Hurtado… The Casualties veio com seu punk rock sujo e conhecido dos fãs e para os de primeira viagem, como eu, agradou normalmente. O erro (a meu ver) do festival foi subestimar o Big Wig, banda que eu desconheço, mas que arrastou uma MULTIDÃO para o palco alternativo ver o show dos caras (e no palco principal tocava Primus e depois Billy Talent) – berraram tanto que a banda ganhou 5 minutos a mais para o BIS básico de banda grande. Depois veio o Reel Big Fish e seu show que agrada se você conhece pouco e desagrada quem quer mais. Emendaram músicas para ser mais rápidos, mas enrolaram em outras desnecessárias (teve até cover de Self Esteem do Offs no meio). Fecharam com o cover clássico de Take on Me. Vandals continuou com a multidão (a essa hora ninguém mais tinha para onde sair –comento depois) e aproveitou para destrinchar todo o seu repertório clássico para ninguém falar mal. Depois teve o Bane (que eu já vi na porta de saída) que soou chato e cansativo. Para finalizar a noite e o meu Rockfest, Strung Out. Show forte com conhecidas, novas e até o cover de Soulmate do NUFAN (que eles participam do CD em homenagem ao Tony Sly), todo mundo aplaudiu mesmo que não fosse ouvido. Agradou.

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Novamente com as costas cantando todas as dores possíveis e o corpo já pedindo morte, me despedi do Amnesia Rockfest e me coloquei a pensar na avalanche de coisas que aconteceram nos últimos 2 dias para entrar em um balanço pessoal disso tudo…

E daí, vem a conclusão… O Rockfest é um festival no seu maior significado possível. Ele reúne MUITA gente, de todos os estilos possíveis e proporciona – por um preço ridículo, uma oportunidade única das pessoas verem certos “artistas prediletos”, curtir o final de semana para se drogar e encher a cara e reencontrar aquela galera que você só vê uma vez por ano (tinham algumas pessoas falando em francês que, na linguagem corporal, parecia isso). O problema é que ele acaba sendo confuso e totalmente bagunçado, além de “insustentável” depois do primeiro dia de festival.

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BackstreetBoys com boné do Pennywise.

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Primeiro que é MUITO sujo. MUITO. Sujo é uma palavra que define o Amnesia Rockfest. Ele é SUJO PRA CARALHO! Muito por conta da consciência do público? Talvez (vi pouquíssimas pessoas – talvez umas 20, guardando seu lixo para, no momento oportuno, jogar em uma lixeira), mas também por falta de estrutura ou um “programa” para isso. Eu andei o festival todo e devo ter contado 20 latas de lixos PEQUENAS (sendo que umas 15 dessas estavam próximo dos ‘food trucks’ e “longe” de onde todo mundo geralmente faz sua parada para comer) e que quase não estavam cheias, visto que a grande maioria do lixo estava no chão de outro lugar – mesmo eu ter visto que uns funcionários trocavam os lixos de tempo em tempo, mas os sacos ficavam vazios.

Se você não quer gastar (????) com lixeira próximas ao público (na real, um festival com mais de 100 mil pessoas, você ter 20 lixeiras é ridículo vai!), crie um programa como o RockWerchter fez. Cada 20 copos vazios que você levava no bar, você ganhava uma cerveja na compra de outras 2 (ou algo do gênero). O que mais você via era a galera pegando do chão ou te pedindo o copo vazio para trocar por mais cerveja no bar. Ponto. O problema de copo você resolve dessa maneira. Agora no Rockfest o que mais você vê é copo no chão – e a galera caga para isso, lança copo de cerveja um no outro, termina e joga no chão e, se tiver alguém sentado, foda-se. Temos aí os dois problemas: Estrutura e consciência do público.

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No problema de comida acredito ser consciência, mas nenhum dos “hang outs” que a galera sentava para comer tinha lixeiras próximas e isso contribui para a preguiça (e falta de educação das pessoas) em deixarem papel, pratos e resto de comida por ali em qualquer lugar.

A educação do povo canadense é parecidíssima com o Brasil. As pessoas não pedem licença – para nada, elas te atropelam e foda-se. Se você está em um lugar assistindo o show e outra pessoa o quer, ela acha um jeito de te empurrar e ficar com o seu lugar sem nem pedir nada. Fiz várias amizades assim – com toda minha ironia que não cabe em mim. Aí chegam os xiitas e falam “cara, você está em um festival de rock e quer pessoas educadas?”. Sim. Estou em um lugar com pessoas, não com bichos, certo?

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O outro grave problema que vejo é a bagunça que o Rockfest acaba se tornando. O problema é que ele conquistou um posto de melhor e maior festival canadense e está certo em continuar com o prêmio – se bem que o Canadá não tem o seu grande hall de festival, como na Europa por exemplo. Mas aí ele tem dois caminhos: Ou lotar o festival ou aumentar o preço absurdamente e tenta manter a qualidade que se espera com isso. Ele escolhe, obviamente, a primeira opção e aí acaba tendo graves problemas estruturais.

O festival tem o preço de CAD140 (com os 15% de taxas canadenses – R$330 mais ou menos) – para 2 dias, mais de 100 bandas insanas e um lineup de respeito… É ridículo de barato. Com isso ele atrai MUITA gente que não tá nem aí para porra nenhuma e só quer um final de semana com cerveja e droga liberada (aqui maconha não é liberada, mas você pode fumar tranquilamente na rua que não acontece nada… Se você for pego “badernando” e tiver com muito, você tem alguma complicação, mas nada demais), quando você tem MUITA gente assim, a baderna é apenas uma faísca em um barril lotado de gasolina…

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O segundo problema é a estrutura do local: Montebello é bonita, linda e maravilhosamente calma. Mas um festival para mais de 100 mil pessoas, em uma cidade de 900 (NOVECENTOS) residentes (vou repetir, NOVECENTOS RESIDENTES), é FISICAMENTE impossível você acertar com isso. Os postos de vendas e trocas de ingresso eram lentas (cheguei quinta-feira, às 13h30 em Montebello para trocar meu ingresso e só consegui sair 15h20 – e ó que só devia ter umas 50 pessoas nessa hora que foi quando abriu oficialmente a bilheteria), as 2 (DUAS) entradas do festival eram pequenas e totalmente despreparadas (tinha 5 máquinas para ler o chip, de 100 MIL pessoas) e a cidade sofre com muita gente na rua, falta de estacionamento, campings oficiais sendo 5km (ou mais) afastados do festival (tem gente que reclamou do shuttle – que eram feitos naqueles ônibus escolares clássicos amarelos)… Enfim, a cidade não comporta. Economicamente deve ser bem interessante (você vê TODOS os moradores fazendo algo para lucrar no momento: fazem pizza, hot dog, vendem água ou até alugam a garagem ou jardim da casa para as pessoas estacionarem ou acampar mesmo…), mas para o público é sofrível e abusivo.

Juntando os dois parágrafos acima, imagina isso dentro de um local não grande e que COM CERTEZA não cabe 100 mil? Os palcos ficam lotados, o som para quem tá de longe não ajuda (até para não atrapalhar os outros palcos) e a pessoa queria até ver Billy Talent, mas não conseguiu chegar próximo do palco e acabou indo naquele outro que tem música X e atrapalha a vida de quem tá ali pela banda… É o que acontece. E foi isso que rolou depois das 20h30 no segundo dia (que é o que mais lotou com certeza, até por ser sábado). No Reel Big Fish os palcos alternativos estavam absurdamente lotados e eu acabei indo já para perto da saída e ouvi o show do Vandals, Bane e Strung Out já na cara da saída, que era o único lugar que pelo menos você conseguia ficar sem ser esmagado.

Mas nem de coisas ruins vive o Rockfest: O lineup que ele oferece é absurdo. Humanamente impossível para acompanhar tudo, pois várias coisas acontecem na sequência ou no mesmo momento. E isso acaba sendo, para a galera que vai pela música (poucos e eu me incluo nisso), de uma alegria e paz indescritíveis. Fazendo o cara ter uma paciência maior para tantos problemas que ele encontra no caminho.

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O som de todos os palcos estava perfeito – a única (ÚNICA) exceção foi no Reel Big Fish que ficou horrível. Primeiro faltou o vocal, depois sumiu a guitarra, depois TODOS os metais… No final, quando tudo ficou bom, a última música foi tocada… Mas em todos os outros shows ficou realmente perfeito e na medida certa.

Pode parecer que eu não gostei, mas não é verdade. Existem pontos de melhora e as críticas precisam ser construtivas e com isso acabam sendo maiores que os elogios… Eu voltaria, mas com uma dose extra de paciência e sabendo que só as bandas (e tentar um jeito de assistir todo o seu necessário) vão fazer você, exausto e com todo o corpo doendo com sua idade pesada, sorrir e falar: Eu voltaria e faria tudo de novo! Valeu Rockfest. Valeu Canadá. Valeu ver onde o Rock me trouxe. Onde esse gosto por bandas e festivais me fez viver. Um vilarejo no interior de Québec, com paisagens insanas de bonitas e uma visão de que a paz, tirando a semana do festival, mora aqui. Voltaria fácil para Montebello e região (o Motel que eu to é ESPETACULAR), mas NÃO NO FRIO hahahahahahahhahahahaha…

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