Os pequenos gestos esquecidos…

Há uns anos atrás escrevi para o Insistimento um texto que o título era: Os pequenos gestos esquecidos. Nele, eu contava a compra de um tênis em Campinas e a partir da falta total de vontade/simpatia/educação da vendedora que me atendeu, eu partia para uma análise até simples e rápida das pequenas coisas que esquecemos totalmente na vida. Um obrigado para uma coisa simples, um sorriso de bom dia e até o "de nada" quando nos agradecem. São pequenas coisas que talvez mudem a vida das pessoas e às vezes é até um jeito de tornar mais "humana" a nossa relação com o mundo.

Isso tudo me veio na cabeça quando voltei de Brasília. No aeroporto, eu comecei a reparar na "superioridade" de algumas pessoas que parecem ser importantes demais para "olhar para baixo" na escala social. Tudo começou quando fui despachar minha mala. O "bom dia" dado pela funcionária da Azul, não passou despercebido por mim, que até retruquei "Oi! Bom dia… Tudo bem?" e ela assustada e meio constrangida com a pergunta me falou "Tudo sim! Nunca ninguém me perguntou isso moço…" eu sorri e comecei a ver que as pessoas no máximo chegavam ali, entregavam o documento e monossilabicamente seguiam suas vidas… Por quê? Dói responder e criar um “mini diálogo” com o mundo em volta?

Não demorou muito e na hora de ir para a sala de embarque comecei a reparar quantas pessoas respondiam o "bom dia" também dado pela menina da porta. Comigo contando, duas pessoas. Nessa leva apenas foram 16 pessoas. Tudo bem que era um domingo de manhã, perto das 10h. Ninguém tem alegria para falar bom dia para as pessoas né? Gasta uma PUTA energia para isso… Deixei passar e desencanei de reparar nessas coisas…

Até que fui essa semana ao banco para tirar dinheiro. Chegando lá, fiquei na fila para o saque (aquela coisa do Banco do Brasil de ter 10 caixas eletrônicos e apenas 6 realizarem saque né?) e uma senhora bem mais velha chegou e ficou atrás de mim na fila. Cedi meu lugar para ela e falei "A próxima é a sra… Pode passar". Ela não me respondeu, se postou na minha frente e perguntou: "Todos esses aqui sacam?" e eu respondi "Tirando aquele último… Esses 4 aqui fazem sim…". Vagou um deles e lá foi a velhinha sacar. O caixa ao lado ficou livre e lá fui eu. Quando terminei meu saque, a carteira da senhora caiu. Abaixei e peguei, devolvendo na mão dela. Sem resposta novamente, não segurei e falei "De nada!" ela resmungou algo e falou "Era só o que me faltava, tendo alguém bem mais novo que eu, ter que abaixar para pegar as coisas que caem no chão.". Eu respondi "Não. O problema não é a idade e sim a educação. Se eu tivesse 70 anos, me abaixaria para pegar e se alguém me ajudasse, receberia um sorriso e um obrigado. Simples e que não custa nem R$1. Talvez seja isso que falte na tua vida para você ser mais feliz.".

Não sei se a culpa da Copa. Da Dilma. Do WhatsApp. Do voo da Malásia. Mas algo parece que acontece na vida das pessoas que tudo necessita de uma divisão social absurda. Um simples gesto se torna uma PUTA afronte ao meu “reinado de umbigo”. Um "empregado" é um capacho que não merece um olhar. O mundo de todo mundo é uma bolha que só se olha para cima e os "subalternos" nunca devem ser enxergados.

Outro dia, um cara veio pedir dinheiro no semáforo (ou farol…). Estava um calor absurdo e eu com o ar condicionado ligado. O cara fez o gesto e eu me desculpei por não ter nada. Só que fiz isso abaixando o vidro e falando diretamente com ele. A resposta dele: "Senhor, não tem problema não. Obrigado por ter abaixado o vidro e falado… Parece que sou um bicho e ninguém se dá o direito de gastar meia dúzia de palavra". A culpa disso talvez seja da insegurança. Eu mesmo já fui assaltado em SP por um maluco assim de semáforo (tudo bem que eram 3h da manhã e ele me levou SUPER R$14). Mas em um dia qualquer, abaixar o vidro e falar "Não tenho nada não cara…", pode fazer a vida da outra pessoa BEM mais "humana".

Com tanta gente enfronhada em igreja, bradando campanhas e protestos aqui e acolá, compartilhando informações sobre corrupções infinitas, me assusta ver que os gestos simples – aqueles tontos e que nada custam, estão esquecidos e sepultados em um lugar tão distante da memória das pessoas. Queria saber se o mundo perfeito dessas pessoas seria com muros sociais gigantes e um ar soberbo sobrando nos seus passos. No bolso, dinheiro e sucesso. Na boca a falta de palavras simples e gestos humanos… Se for assim, o mundo será BEM perfeito – Só que não.

Em tempo, o texto no Insistimento não existe mais… O Mamede na troca de layout deve ter retirado os textos de outros autores. Por isso tentei resumir a ideia dele no início do parágrafo e não tem nenhum link para o texto original.

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