Minha chama se apagou…

Lembro-me de um dia qualquer do final do ano de 2013, ter uma ideia de deixar pronto um texto para quando a Mika se fosse. Um texto colocando todas as coisas boas que ela me fez, sua importância na minha vida, sua presença constante em grande parte do que eu sou e tudo mais… Ao mesmo tempo em que tive essa ideia, me pareceu um tanto absurdo deixar algo mortuário "guardado" para quando fizesse algum sentido. Acabou que não escrevi nada, pois achava que na hora certa tudo ia acontecer…

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Pois não aconteceu.

A Mika teve que ser sacrificada hoje, 5 de fevereiro de 2014, depois de inúmeros anos lutando contra um câncer que a secou da vida e contra convulsões absurdas por conta de distúrbios XYZ no sistema nervoso.

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Eu perdi minha cachorra, meu pedaço importante, um porto que há 15 anos eu sabia que era seguro. Eu perdi e não sei o que pensar… Eu a vi nos últimos segundos de sofrimento, vi na mesa do veterinário. Vi quando estava "tudo bem", vi quando estava doendo e vi o pavor na hora que ela entendeu o que iria acontecer… Acho que essa última cena não vai ser muito fácil de esquecer. "O bicho sente" falou meu pai segundos após o veterinário sair para buscar a injeção final e a Mika urrar alto – em um ataque de pavor ou medo.

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Eu achei que seria fácil, que o básico "é melhor para ela, sofrer não dá… Ela vai descansar" seria suficiente para acalmar toda a dor. Não é. Não alivia nem um segundo de tristeza. Nada. Dói tanto que você vai junto. Parte de mim também tomou a injeção e dormiu para sempre.

É estranho olhar e começar a pensar "O que foi a Mika na minha vida?" porque tudo que me lembro de ter passado teve ela – perto o suficiente para se fazer notada. Tenho umas 60 fotos na minha frente, de um mural que é tão velho e imperfeito que 90% das pessoas eu já nem sei mais se estão vivas ou nem quero saber… Mas todas elas conheceram (ou ouviram MUITO falar) a Mika. Todas.

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A Mika chegou em 23 de março de 1999. 4 dias antes de eu fazer 15 anos. Quinze anos cara… QUINZE! O mundo nem era mundo, mas a Mika já andava, latia e "irritava" comigo. Ela chegou achada em uma caixa de papelão que estava na Anchieta para qualquer coisa passar por cima e matar ela… Juro. A Andreza trabalhava na Cetesb na época e o motorista da Van parou, pegou a caixa e levou para o trabalho para ver se alguém cuidaria da cachorra… A Andreza pegou e falou "Tem uma amiga da minha mãe que cuida… Vou levar". O problema é que a Mika é muito perfeita para entrar e sair da vida das pessoas. Ela fica. E ficou. Ela era minúscula, mas ela era infinitamente linda (e se manteve SEMPRE linda). Cabia na minha mão e só tinha um rabo enorme! Ela chegou assustada e ficou "escondida" embaixo da máquina de lavar – um espaço minúsculo!!!! Tão minúsculo que no 2o dia ela conseguiu sair um pouco e tomou tanto leite, mas tanto leite, que ficou inchada e entalou embaixo da máquina… Ela entrou e não conseguia sair… hahahahhaha… Dali para frente, ela já tinha ganhado o coração de todo mundo e o reinado já tinha dona.

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Ela foi ficando folgada, cheia de pose, "espoleta" e fez de tudo um pouco que cachorros elétricos fazem. Comeu carteira, dinheiro, edredom e sei lá mais o que. Ela sempre manteve uma pose absurda de princesa que combinava tanto com ela… "Vira-lata que deu sorte na vida… Tu era do Cubatãããooo" gritava dona Lúcia… Enquanto ela – no alto da pose – abanava o rabo "concordando" e nunca perdendo o rebolado. "Imagem é tudo".

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Ela tinha gostos peculiares que toda princesa deveria ter. Amava polvo. Quando minha mãe fazia alguma coisa com polvo, ela chorava alto por ele. Muito alto. Adorava andar de carro e queria o banco de trás inteiro para ela. Dividi-lo "irritava" um pouco. Gostava de deitar e se esparramar inteira no banco e quando ela tivesse afim, ia espiando a paisagem da viagem. Ela dormiu por uns 3 anos comigo – na mesma cama. Ela PRECISAVA dormir no travesseiro. Nunca nos pés ou em outra cama. No travesseiro. Por favor.

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Em 2011, um tumor a fez perder a vista esquerda toda. Por um ano nada aconteceu, mas o tumor voltou no final de 2012. Inchando aos poucos e criando uma nova "bola" no lugar que era a vista. Já era tarde e a Mika não tinha mais idade/saúde para uma nova operação. A esperança era ele estacionar e deixá-la em paz… Até fez isso, mas não por muito tempo. Já no final de 2013 ela ficou muito magra e o tumor aumentando. O sofrimento não existia. Não doía, apenas incomodava. Ela comia bem, andava, estava esperta (no tanto que a idade de 14 anos pedia) e tudo mais… Até ontem. Que tudo piorou e hoje ela foi embora para sempre. Levá-la no carro e voltar sem uma vida, é uma sensação estranha que eu não consigo descrever. Acho que nem quero.

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É estranho como a vida se mostra para nós. 15 anos de enxurradas de memórias e presença, se vão em pouco menos de 5 minutos. PUFF. Acabou e o que fica é um buraco dolorido na sua vida que você tenta em vão conter, mas que não consegue.

Enfim, não é o texto que eu queria fazer da Mika, nem o que ela merecia de fato, mas fica para outra hora que a dor e a falta dela virarem parte do normal.

Mika, obrigado linda! Te amo para sempre e estou com saudades. Fique bem. Eu tentarei ao máximo ficar… Um beijo amor!

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2 thoughts on “Minha chama se apagou…”

  1. E eu acostumada a ver vc sempre ácido, fiquei sem reação lendo tudo isso. Sinto muito Matheus =/
    Eu sei que nada do que falam nessas horas ameniza tudo que se passa por dentro. Então, só vou dizer que estou aqui pra caso queira conversar, xingar ou o que quer que seja. Linda homenagem pra Mika. Beijooo

  2. Oi primo, linda homenagem a Mika chorei muito! Outro dia li um texto do Chico Xavier que
    dizia que quando amamos muito nossos bichinhos e eles desencarnam, ficam uns 4 anos ao nosso
    lado, ou até reencarnam no nosso próximo bichinho, que bom! só quem tem um peludo do
    lado entende a sua dor ! Bjs

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