Os choques do Deserto do Atacama

Acho que o primeiro post que fiz da viagem no Facebook foi ontem, falando sobre nosso dia no Atacama e o que falei ali acho bem verdade: Existe uma viagem qualquer e existe uma viagem que passe pelo Deserto do Atacama. A parada é inexplicável. É tudo (TUDO) muito lindo… As paisagens (por mais que pareçam iguais) ganham tons e ângulos diferentes que transformam tudo em uma coisa BEM complexa e bonita. As fotos tentam explicar, mas o que mais me vem na cabeça não é contar dos passeios ou de como conseguir fazer a viagem para cá (tá, eu explico depois. Juro), mas sim da sensação toda ao presenciar tudo aquilo.

DSC02355

IMG_0678

Mas aí o problema é que faltam palavras e definições…

Começamos o dia 4h da manhã para ir até os Geyser del Tatio… Formações vulcânicas que soltam vapor e água por conta da pressão atmosférica (chegamos a 4420m de altitude). 6h da manhã começa o passeio com -6 graus e aquele bando de fumaça (que cheirava a enxofre ou algo do gênero) e "buracos" brotando água do nada por um caminho enorme. -6, -8 ou o que for… É frio! FRIO PRA CARALHO. Frio que você precisa ficar se movimentando para não congelar. FRIO. Mas o que fazer quando se tem uma cordilheira de fundo e um cenário inexplicável na tua frente? Tu arranca a mão para fora e começa a tirar foto e mais foto… Teu dedo congela, tu desliga a câmera, mas o sol começa a brilhar de um jeito que a paisagem muda (para melhor) e ae tu liga a máquina de novo, teu dedo já está congelado, mas dane-se. Teu dedo dói, mas a foto ficou foda! Você esquece a dor, porque só de ter registrado aquilo, já valeu a pena…

IMG_0675

IMG_0684

IMG_0728

No passeio tem um café da manhã onde tem ovo cozido e leite com chocolate feito no Geyser (os guias colocam um saco enorme na água – 87 graus em média) e dali os ovos se cozinham inteiramente (e o leite e qualquer coisa esquentam para caralho). O passeio continua chegando a uma piscina com água a 35 graus, onde uns loucos (eu não estou incluso) resolvem cair para tomar um banho naquele cenário bizarramente perfeito… Fora temperatura negativa, mas dentro 35 graus. Essa é a tônica do passeio. O choque. Algo quente absurdamente, com algo frio e congelado.

IMG_0703

DSC02346

Depois de um tempo seguimos viagem vendo lhamas, alpacas e todas as suas vertentes (são 4), ainda Flamingos e outros animais… Chegamos depois em Machuka, um vilarejo de 10 casas onde já moraram 60 pessoas, todas elas focadas na mineração que existia e no cultivo/uso das lhamas. O minério acabou, as lhamas não davam muito lucro… A cidade existe, mas só 4 pessoas moram ali e mais umas 5 vão diariamente ali para atender os turistas (a parada é totalmente turística, afinal não tem nada na cidade, apenas um banheiro – pago – uma mulher fritando empanadas e um lance de artesanato caro. Só.)… Mas eu fiquei imaginando a cidade "lotada" com 60 pessoas. 60. Um vilarejo com 60 pessoas. Mais um choque…

IMG_0730

DSC02373DSC02374IMG_0753

A tarde fomos para os Salar. Estamos no Atacama, o deserto mais seco do mundo e claro que onde você olhe, você vê a secura estampada em qualquer lugar… Indo neste caminho para o salar, a paisagem vai mudando gradativamente e no final você vê um chão branco, quase sem vegetação e fala "PQP! Quanto sal!". No salar de Cezar, fomos até o Salar de La Piedra onde é possível entrar na água e ver que vc não afunda nem se quisesse… A parada tem 7x mais sal que o mar. A água? Uns 10 graus talvez… Depois de ver tudo isso, andamos uns 20 minutos na Van e chegamos a Los Ojos. Lá, uma queda de 3 metros para cair na água "sem sal" e nadar o mais rápido possível para sair dela… Afinal, a água vem da Cordilheira e chega próximo dos 0 graus… Mas é um alívio, pois fora o sol castiga e está mais de 30 graus tranquilamente… Mais um choque.

IMG_0755IMG_0758

IMG_0761IMG_0769

IMG_0779

Dali, andamos uns 2 minutos e chegamos a outro salar para ver o por do sol. Nada de muito espetacular (o sol se põe atrás de uma montanha longe até…), mas o guia fala "olhem as cores. Só isso". E daí fodeo. O salar reflete como um espelho do lado esquerdo, mas no direito a cordilheira se pinta de marrom, até laranja, até quase uma cor escura e que adormece e some… Sim, choque!

IMG_0786

IMG_0789IMG_0796IMG_0803

Na volta para a cidade (estamos em San Pedro, uns 40 minutos desse lugar) as grandes perguntas: Como alguém descobriu isso? Como alguém construiu as "estradas" para lá? Como alguém chegou naquele lugar do nada? Como foi que a pessoa sobreviveu a tudo aquilo – afinal, o clima seco judia e cansa – para deixar esse "legado" para os turistas bizarros e desconexos com a realidade do local, aproveitarem?

IMG_0805

IMG_0795

Mas acho que cada pergunta sem resposta como essas, fazem do Atacama uma surpresa absurdamente prazerosa… E eu falo: Eu volto. Volto fácil.

Que tal compartilhar esse post? 😉

Deixe uma resposta