Existe um ponto na minha vida que ninguém nunca entendeu. Nem amigos próximos, irmãos, companheiros de décadas… Talvez alguns possam ter chegado próximo de entender, mas ficaram longe mesmo assim… Chama-se Mika.
A Mika não é só minha cachorra. Minha única e perfeita forma de vida que sempre me acompanhou. A Mika é mais do que isso, porque a Mika é parte de mim. Nem tanto pelos 14 anos que ela me acompanha, mas por tudo o que a presença e vida dela se completa em mim. Eu tenho e tive outros cachorros, mas a Mika é a Mika. Existe a diferença única e totalmente espiritual que a Mika e eu temos muito mais do que simples "dono e bicho de estimação". A Mika é mais e é imbecil eu tentar explicar, porque simplesmente não tem tanta explicação capaz de descrever…
E hoje ela está morrendo… Todos estamos afinal, mas ela mais. Em 2011 ela teve que retirar o olho esquerdo por conta de um tumor. Foi tudo bem, mas 1 ano depois (ou menos talvez) ele voltou e as forças sumiram, pois a cirurgia seria mais complicada e que a Mika já não iria aguentar… Era esperar e torcer para ele não se mexer. Ele se mexeu, cresceu e tudo o que a linguagem específica possa descrever… E hoje ela sangra. Sangra porque ele força a parte nasal. Então ela tem uma hemorragia latente. Ela não sofre aparentemente, não tem dor e vive normalmente se você olhar agora. Mas tem algo dentro dela que cresce e arranca a vida dela, aos poucos e lentamente. E sem querer, arranca a minha também…
É estranho, porque é um momento que eu não consigo chegar e pegar parte desse sofrimento e falar: "Deixa isso aqui comigo Mika", eu não consigo trocar de lugar, por mais que eu queira. Ela nunca fez isso comigo, mas eu faria isso por ela porque ela sempre esteve do meu lado. Quando amigos me traíram, quando meus planos não se concretizaram, quando tudo parecia absurdamente perdido, ela estava ali. Ela estava na sua simplicidade de vida e no seu silêncio me dizendo várias coisas. Ela nunca me abandonou, por mais que eu merecesse um abandono algumas vezes. Ela se manteve. Ela nunca foi aquela absurda brincalhona, mas ela sempre soube ser completamente agradável. Mesmo ela me jogando fora da cama diversas vezes…
É dolorido. Não é tristeza, porque isso seria fácil de resolver… Mas é um sentimento de incapacidade. De não ter o que fazer para corrigir ou curar. É algo imbecil, mas que machuca por ver que chegou um momento que eu tenho que cruzar os braços e falar: "Ok Mika… Obrigado, mas é isso".
E isso, sério, é algo que eu nem escrever consigo.
Não são apenas 14 anos… É muito mais em jogo e hoje eu só preciso do meu silêncio para tentar compreender tudo isso.