The Cure–São Paulo

Existe talvez um grande divisor de águas no ano passado que tenha passado despercebido quando escrevi por aqui: O Show do The Cure em Barcelona. Realmente eu sempre gostei de Cure e sempre foi aquela banda que estava presente, nos bons e nos péssimos momentos durante inúmeros anos da minha vida. Falo que passou despercebido ano passado por estar naquele furacão de férias: Barcelona, Portugal, Itália, reencontro foda em Paris e tudo mais, que muitos nem me perguntam (e muitos mesmo lendo nem sabem) sobre o show que rolou no Primavera Sound (este um dos melhores festivais do mundo).

Mas eu falo muito deste show. Deste dia. Deste festival e da sensação (dolorida muitas vezes) de assistir um show de 3h20 com músicas que te levam do mar calmo para a tempestade em um "mal falado" obrigado. Isto é The Cure e eu falei disso muitas vezes em bares, viagens, conversas e e-mails por aí… E a vida sempre apronta as suas e, menos de um ano depois, deu um tapa na cara e me botou para reviver tudo (ou QUASE TUDO) daquele dia. Em doses diferentes, em clima ameno e uma noite que parecia ser "normal" mesmo tempo que especial.

Admito que sou ruim para resenhar coisas que me "batem" mentalmente. Eu tento colocar toda a dose de ambientação necessária e posso (como muitas vezes fico) acabar um tanto chato… Por isso, tentarei, com todas as minhas forças, fazer a coisa mais direta e rápida possível.

Desde o anúncio (que rolou lááááá no ano passado) oficial da turnê, Robert Smith declarou que para se sentir bem deveria tocar durante mais de 3 horas suas músicas, da sua maneira… Isso ficou sendo normal desde o Bestival 2011 (último CD deles, ao vivo e lançado em 2012) com a turnê de verão do ano passado toda postada em shows de mais de 3 horas de duração. Inclusive teve alguns festivais que tiraram o The Cure do line up, por conta da duração do show (Sério) e esta foi uma "obrigatoriedade" para o fechamento do show. Ou seja, a vinda depois de 17 anos para o Brasil, iria brindar todo mundo com grandes clássicos e momentos nostálgicos e especiais…

Mas está completamente enganado se acha que o The Cure tocou "tudo" que existe na sua (infinita) discografia… Apenas para ter uma ideia básica, Bloodflowers (CD que fecha a dita trilogia do The Cure) não teve uma música tocada, assim como vários outros e outros sensacionais que tiveram 1 ou 2 canções apenas. Isso que estamos falando de um set de 40 músicas, onde a enrolação é praticamente zero e é música, atrás de música, atrás de música…

Falando do show em si (porque vou pular o assunto "público" – E se estiver curioso para saber porque, dê um google e saiba o que eu e muita gente achou da grande maioria do pessoal que compareceu ao Anhembi no sábado) o Cure sabe como dosar um embalo. O setlist arrebata da alegria para a euforia, da melancolia à tristeza acentuada. Do hit radiofônico à música-mais-dançante-existente… Sem deixar o clima se esvaziar. Se o set vai para a alegria, ele vai se dissolvendo aos poucos para chegar a algo mais introspectivo, lisérgico e depressivo. Foi assim com a primeira parte, iniciando com Open e High (levando a galera para uma alegriazinha), passando por sucessos para todo mundo aplaudir e gritar (Just Like Heaven, In between Days, Friday I’m in Love e outros) e o início de um declive mental com Wrong Number, One Hundred Years e End e o primeiro BIS com Kiss, If only tonight we could sleep e Fight (a única troca – que eu não curti muito – com o show do RJ, onde saíram Plainsong, Prayers for Rain e Disintegration), onde o barulho, a agonia e a confusão reinam solta… Mas The Cure sabe todas as cartas da manga e faz com que todo mundo saia dançando, rindo, pulando e proclamando que foi o melhor show da vida, mesmo depois de 3 horas e todas as colunas travadas, pois com um final onde temos Lovecats, Caterpillar, Boys Don’t Cry, 10:15 Saturday Night e uma versão pesada e completamente perfeita de Killing an Arab faz com que qualquer cansaço ou dor nas costas se dissolva rapidamente e os aplausos e sorrisos sejam postados como verdades supremas.

Robert Smith é sensacional no palco. Se sente à vontade para cantar, para deixar de lado a guitarra, para dançar e até para falar coisas que ninguém vai entender e não se importar. É um show não de performance, mas de música, de uma pessoa que sabe o quanto é importante para seus fãs e o público que o assiste (não a maioria, mas uma grande parte que foi para realmente curtir tudo aquilo).

Eu não sei se muitos vão guardar, mas eu guardarei o sábado 6 de abril como perfeito em 2013. "Só" por ter o melhor show do ano do Brasil, por ter visto uma banda que sabe ter a qualidade perfeita para um show e uma banda que, mesmo depois de dias, não consegue fazer o cidadão aqui tirar o CD do som e ficar lembrando cada hora uma coisa nova do show… Por isso que vale a pena e como disse antes: Estou destruído, mas se tivesse repeteco no dia seguinte, eu estaria lá de novo. E de novo. E de novo.

Valeu The Cure – Ainda espero, antes da minha morte, reencontrar com vocês nessas curvas da vida.

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