Rock in Rio Lisboa, a busca ao banheiro!

Primeiramente deixo explicar alguns pontos que acho necessário. Admito que comprei o ingresso do Rock in Rio apenas para o show do Bruce Springsteen. Nada além disso. Minha ida ao festival seria apenas para um show, mas já que estava ali, porque não esticar algumas pernas e conferir coisas novas né? Logo, veja este relato como um viajante de passagem, que não queria muita coisa, além de um bom show do seu headliner e um conforto mínimo para se esperar a longa (e interminável) passagem dos outros artistas.

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Cheguei ao Parque Bela Vista, através do metro, e entrei ao recinto rápido e tranquilamente 19h30. No palco mundo o Kaiser Chiefs faziam as pessoas balançar suas cabeças e o mar de gente que já existia no Palco Mundo me fez desanimar por conta de ver que, chegar perto seria problema demais. Some isso a uma viagem que estou conhecendo um país novo e no dia em questão parti para uma odisseia de duas cidades ida / volta, de carro, em algo desconhecido e dormindo pouco. Logo, tentei ir comer algo e beber uma cerveja tranquilamente para esperar as bandas. Enquanto comprava e comia o Kaiser deu Adeus aos portugueses que, aparentemente, aprovaram sua apresentação. Mais tarde descobri que ele fez uma parte do show na tirolesa do festival (em cima do Palco Mundo). Deve ter sido divertido.

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Terminei meus 500ml de cerveja, meu sanduíche e comecei a minha procura (visual até então) pelos banheiros (ou como se fala aqui, CASA DE BANHO, com um sotaque surreal de engraçado). Olhei as placas, olhei além, olhei para os lados, olhei a movimentação de pessoas (afinal o show tinha terminado e é nesta hora que as pessoas vão mijar, no dom da palavra) e nada. NADA. N-A-D-A. Tipo praticamente impossível. Achei um tanto surreal e me pus a andar (minha ideia inicial seria só ficar sentado e ir pegando um lugar cada vez mais perto, mas desisti, visto o problema do banheiro e eu ter tomado 750ml de cerveja, uma pequena e uma grande). Andei a Rock Street onde se apresentava um trio muito bom. Tocando um jazz, meio blues, meio folk, meio perfeito para a ocasião e em um lugar surreal de bom. Um coreto! Sem ironias, achei fantástico. O som estava bacana, o número de gente era algo absurdamente grande, mas o banheiro ainda nada.

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No coreto você ouvia o som do palco da entrada (que eu não me lembro qual era), além do palco Sunset que tocava o Erasmo Carlos. Show bacana para brasileiro ver e que, pelo que pude ver de mãos para cima, foi curtido pela galera presente (se eram brasileiros, aí é outra história!). Andei mais e PUFF, do nada encontro o banheiro. Estava marcando masculino, mas a mulherada invadiu geral… Eu ria, mas uma das mulheres (uns 45 anos) me fala "To com muita vontade e só tem este aqui!". Ou seja, banheiro era um luxo no Rock in Rio. Nisto morreram 55 minutos (entre a saída do Palco Mundo, andar quilômetros até o Sunset, passando pela Rock Street e vendo um pouco do show do trio). Na volta (pelo mesmo caminho), na frente do coreto, você ouvia o James (no Palco Mundo, MUITO longe), o Erasmo Carlos e apenas na FRENTE do coretinho que você ouvia seu show. Na real? Odiei e me deu uma vontade tremenda de mandar um FODA-SE gigante para o Rock in Rio e sua "espalhada desordenada" de palcos.

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Finalmente cheguei ao James e o que pude ver era um cara que cantava com sentimento melancólico demais, levando músicas que uma minoria conhecia e outras que eram acompanhadas com gosto do público. Tudo morno, até que ele conta uma historinha de quando ele tinha 16 anos e ele ganhou um ticket de um show em uma cidade vizinha da dele na Inglaterra. Quando ele chegou ao show, ouviu a primeira música e tinha no rosto o maior sorriso que ele deu na vida (Isso me assustou, porque ele não sorriu NENNHUMA vez no show) e no palco estava Bruce Springsteen & The E-Street Band. Daquele em dia em diante, ele sabia que a vida dele era estar em um palco tocando e contando sua história. Ali, ele não ganhou só a mim, mas a todos os milhares que estavam vendo o show. Dali para frente, a energia do público inflamou e com um sing along poderoso, ele deu Adeus… E a galera cantou por minutos o poderoso refrão final.

Depois de James, uma rápida troca de palco e os Xutos e Pontapés inflamaram o Palco Mundo (e posso dizer o Rock in Rio Lisboa). Em casa, com sucessos absurdos e tudo (digo novamente, TUDO) nos mínimos detalhes, não desapontaram. Algumas pessoas que estavam perto de mim, pareciam que iam ter um ataque, tamanha a emoção. Não conseguia entender e na verdade, não vejo uma banda brasileira que leve isto ou tenha este tamanho. Xutos e Pontapés parece que levam mais do que uma geração ao show (a cena da entrada foi ver o vô, o pai e o filho de uns 8 anos com a camiseta do Xutos e alegres por viver aquilo, SURREAL!). Sucessos, gritarias, palmas, mais gritos, mais aplausos e tenho certeza que preciso baixar um CD deles, pois a energia contagia e as músicas são boas.

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Com um tremendo atraso (estava marcado para 23h10, começou 0h00) Bruce Springsteen entra ao palco. Admito duas coisas antes de começar a escrever. Pensei seriamente em sair no Xutos e vir para o hotel para ver o show (que segundo reza a lenda iria passar pela TV), isto por conta das minhas costas que travaram novamente e doíam absurdos. Mas pensei que quando fechei essas férias, mirei este show inteiro. Fiz meu roteiro, alterando outras datas e não a de Lisboa. Então minhas costas iriam esperar até Born to Run. Se fosse a primeira, eu iria embora. Se fosse a última, eu aguentaria (chorando) a dor. E assim foi feito. As luzes se apagam e ele canta ‘We take care of our own’, empolgante e relaxante. Mas juro que não achei mágica… Até ele tocar Wrecking Ball (na sequência…), aí o coração pulsou e o braço arrepiou. A versão é tensa ao vivo, ganha uma força inexplicável e na parte de "Hard times comes and hard times goes" eu olho um pouco ao lado e vejo um cara, com a camisa de Portugal, segurando o símbolo e gritando isso fala "Vamos melhorar Portugal!". Na boa? É de encher os olhos de lágrimas…

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O show continua e ele tem que ganhar ainda mais a plateia. Lança clássicos e arrisca português (ele fala bem, mas enrola algumas partes que não entende e até ele cai na risada), enfim é o Boss na tua frente e tudo o que fizer a plateia vai aceitar. Poderoso. O show continua e dois pontos altos para mim foram a dobradinha de "Because the Night" (com direito a um casal de 50 anos dançando como em um baile uns 15 metros de mim) e "No Surrender" (surreal de foda!) e "We Are Alive" e "Thunder Road". Não sem antes, em ‘Waitin’ on a Sunny Day’, ele puxar um garotinho, que estava na primeira fila, para cantar a música. Sensacional, mas algo que eu já esperava (quem viu o DVD sabe)!

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Li hoje que ele saiu roubando da galera pedidos de músicas para montar o setlist, mas infelizmente minhas preces foram ouvidas e depois da primeira parada, ele me volta com Born in the USA e Born to Run. Dali, o alívio, as lágrimas de emoção (ouvir isso ao vivo é inexplicável) e todo o sacrifício de juntar dinheiro para estar ali, valem a pena. O Bruce compensa o fato da falta do banheiro, do festival ser estranho e de estar muito lotado. Ele força e, para não sei quantas mil pessoas, canta como se fosse à sua garagem. Ali, quem não se rende, é rendido. Quem acha ruim, aplaude emocionado e quem já conhece, acaba entendendo que não conhecia nada. ALI ELE PROVA QUE É O BOSS!

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Meu Rock in Rio terminou ali, indo embora com o som de Glory Days ecoando bem longe ainda do Parque Bela Vista… O show foi até às 3h da manhã, horário próximo do que comecei a dormir, exausto, mas que o sorriso no rosto explicava o tamanho da gratidão que vivi ali…

Mesmo sem banheiro, mesmo sendo algo comercial e não um festival no seu espírito, o Rock in Rio fez valer a pena, pelo line-up. "Apenas" por ele.

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4 thoughts on “Rock in Rio Lisboa, a busca ao banheiro!”

  1. Você vai num festival de música para ir no banheiro?? Coisa de brasileiro mesmo… por isso somos motivos de piada para os nossos “irmãos” portugueses.

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